Há muito conservadorismo é no mercado laboral. Não se consegue despedir ninguém sem justas causas, indemnizações, manifestações, sindicatos à perna – é uma complicação. É aqui que a malta precisa de simplicidade e flexibilidade. Os tempos mudaram, isto já não há cá empregos para toda a vida. Há que universalizar o bom do recibo verde, só com o trabalho independente é que pode haver empreendorismo, pá, mais produtividade e inovação, mais emprego. Tu já viste bem o que os outros andam a ganhar e o que tu ganhas? Já viste as regalias que os gajos da função pública têm? Para não fazer nenhum! É tudo uma corja, pá! E andas tu a pagar isto com os teus impostos! Para os gajos andarem a coçar o cu pelas paredes enquanto tu dás ali no duro e não consegues sequer pagar as contas ao final do mês. Deixa-te lá disso, não penses em greves. Ainda por cima tens um contrato a prazo, com essas brincadeiras ainda vais mas é para o olho da rua, pá. Deixa-te de lamúrias e vai mas é trabalhar.
"(...) deixai já de olhar o mundo com os vossos binóculos e tomai uma decisão política dai-me uma licença de louco que me permita voltar à obediência automática ao vosso sempre sábio mandado prometo-vos que nunca tentarei procurar explicação para nada confesso a minha vã pretensão pretérita a minha soberba atitude com a que me apresento podeis acreditar-me mui sinceramente arrependido sabeis que sou incapaz de mentir e até isso havereis de me perdoar também foi muito o meu orgulho e sempre será mínimo o vosso castigo arrasto-me aos vossos pés pisai-me cuspi-me urinai-me por cima que eu saberei sorrir agradecidamente"
Camilo José Cela, ofício de trevas 5, trad. Pedro Tamen, Livraria Bertrand, p. 15
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