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21.3.08

Carbonato de Carla?

"(...) qui décolle ces jours-ci, est destiné à redresser l’image même de Sarkozy l’agité. Et qui peut changer un homme ? Sa femme. Ainsi vont fleurir d’opportunes confidences sur le fait qu’elle l’apaise, qu’il est tellement rasséréné qu’il ne dira plus jamais «casse-toi, pauv’ con !».


A França passou da fantasia da mulher com poder e decisão política para a fantasia das influências salubres da beleza feminina no lar. Um país transportado pela cor roxa de um vestido e o poder fálico de um presidente que o possui.
Isto numa europa onde há quem diga que a resistência e o arrojo das três Marias era coisa do passado, e onde feminismo é cada vez mais palavra a evitar por mulheres e homens que se prezem e tenham ambição.

Talvez por isto tudo Simone Veil tenha virado o rosto quando os olhares estavam a um fotograma de distancia.

7.1.08

Lei n.º 37/2007 de 14 de Agosto, Artigo 4.º 1 - É proibido fumar g) Nos estabelecimentos de ensino (...) ou La cigarette c'est ta mère



Ficámos reduzidos ao papel da esquizofrénica da história que Deluze conta (numa sala de aula e sempre de cigarro na mão). Na versão portuguesa o psiquiatra ter-lhe-ia dito:
- Nada de cigarrinhos, minha menina. O cigarro é o teu pai.
Ao que a esquizofrénica poderia ter respondido, virando as costas:
- Sim, sim, o cigarro é o meu pai. Mas se o cigarro é o meu pai, o meu pai é o cigarro. Sendo assim, vou lá para fora.

E lá vamos, esquizofrénicos, lá para fora - fora do espaço público que se fechou para a nossa doença.
E se o cigarro é o nosso pai, a ASAE deve ser a nossa mãe, e eu não consigo ultrapassar o complexo de Electra - cada vez mais me apetece matar a mãe e casar com o pai.

20.11.07

irritado e de saída de banco

O que parece surgir como incontestável nos casos recentemente vindos a público (do cozinheiro e do cirurgião seropositivos para o VIH) é, além da actividade delirante de infestação a que a nossa sociedade parece estar condenada, o estranho lugar que tem vindo a ocupar entre nós a medicina do trabalho.

Aparentemente os colegas da medicina do trabalho parecem ter esquecido que o doente/utente deve ser a preocupação central do nosso trabalho como médicos, independentemente de quem lhes paga. Parecem acreditar que os interesses e preocupações (racionais ou não) das entidades empregadoras se sobrepõem à pedra basilar de toda a prática médica- a confidencialidade médico-doente.

Não há princípios éticos absolutos porque a realidade humana é demasiado complexa e plural, mas há princípios éticos fundamentais que têm de ser respeitados. Princípios éticos que tem de se fazer respeitar através códigos de conduta que prevejam a ponderação sensata dos vários valores em jogo.

No primeiro caso, respeitante ao cirurgião, é natural que surgissem dúvidas ao clínico responsável, até porque a literatura não parece clara acerca dessa matéria. Assim é possível que o principio da confidencialidade pudesse vir a ter de ser quebrado (ou é aceitável que se argumente desta forma), mas antes de o ser seria necessário passar por algumas etapas que pelo que vem na imprensa não parecem ter sido concretizadas. Nomeadamente, no caso de não existir compromisso expresso por parte do cirurgião de que não interviria em situações clínicas de risco infeccioso, o colega poderia ter avançado com um pedido à ordem para levantamento do sigilo.

No caso do cozinheiro, sem qualquer risco médico de contágio, a quebra da confidencialidade parece verdadeiramente injustificável e grave.

O atropelo ao principio da confidencialidade por parte destes colegas coloca em risco a actividade clínica de todos nós. Prejudica a minha relação terapêutica com os meus doentes. Tem de ser severamente punido.

Mas também o que é que podíamos esperar num país onde o próprio bastonário diz que o código deontológico não é para ser cumprido?

Quanto à decisão judicial, só mesmo na república das bananas é que estas são endeusadas apenas por serem judiciais, mesmo quando incompreensíveis, mesmo quando não obedecem aos princípios da racionalidade e da evidência científica. É saloio e repugnante. Os raciocínios jurídicos não se regem pelas mesmas regras lógicas que os do resto dos mortais ?

Já agora, se querem impedir as pessoas seropositivas para o VIH de cozinhar, se calhar o melhor é impedi-las de fazerem atendimento ao público, impedi-las de cumprimentar as pessoas, colocá-las todas numa ilha ou numa câmara de gás. Entretanto podíamos criar uma estrelinha para elas usarem no peito para não nos enganarmos. É uma questão de saúde pública como sugerem alguns liberais tão liberais que até metem nojo.

2º já agora, quanto tempo é que o tipo andou a cozinhar com tuberculose (se calhar a isso é que deviam ter estado mais atentos, não?)

25.10.07

A curva dos sinos


Hoje não posto já me desgastei a discutir com o vasco aqui sobre este tipo que inventou este desenho e era financiado por estes tipos.

Lindo desenho.

22.10.07

Watson - Sobre testes, validações de testes, a epistemologia, o chocolate e a inteligência de alguns.

Estava disposto a calar o lobotomias para sempre mas esta merda do QI estava já a mexer-me com os nervos.
Na realidade do senso comum, e da ciência parva, falamos de inteligência como uma coisa objectificada mas cada um de nós tem um conceito muito próprio dela . Eh pá aquele é que é um tipo inteligente e tal, para logo vir alguém, fodasssss eu acho que o tipo é um banana e só diz obtusidades e tal.
Mas qual é verdadeiramente a força cientifica deste constructo – inteligência – qual é a sua coerência interna, qual é o seu Gold Standard?
Neste caso como em muitas áreas da avaliação em psicologia (exceptuando a psicopatologia) os conceitos existem per se, e é per se que têm de ser aceites. Isto porque não existe nenhum Gold standard, nenhuma outra forma de operacionalizar o constructo para além dos próprios testes que se propõem a medi-lo (de novo excepto no caso da psicopatologia- ou neste caso da debilidade). E não temos verdadeiramente nenhum Gold standard porque a inteligência não é um constructo sólido, não é um conceito sobre o qual nos possamos facilmente pôr todos de acordo durante uma avaliação por entrevista, não tem coerência interna.
Ou seja – mais simples para poder ser lido por todos– a inteligência existe? existe. O que medem estes testes? a inteligencia. O que é a inteligência ? é aquilo que é medido por estes testes.
Como é que podemos avaliar estes testes se não temos um constructo sólido ? uma das maneiras de o fazer passa por aquilo que o Luis nos explica aqui, cito:
« os testes de QI foram desenvolvidos em 1905, por Alfred Binet. Na primeira versão dos testes, os homens tiveram (em média, sempre em média) melhores resultados que as mulheres. O autor corrigiu os testes e as mulheres passaram a obter os mesmos resultados. Anos mais tarde, os testes foram re-corrigidos para que os negros obtívessem os mesmos resultados que os brancos.»
Na realidade uma das formas de validar os testes é tentar que eles tenham resultados homogéneos em diversos grupos sociais- como forma de justificar a universalidade do conceito e a coerência interna do consctruto. Ou seja – mais simples para poder ser lido por todos– para que possamos dizer que medimos a mesma coisa apesar dos grupos sociais serem diferentes.

Mas tudo isto é uma discussão de alguma forma desactualizada porque o senhor Watson inventou um Gold standard espectacular- Ter empregados negros, e o Prof Desiderio inventou outro que é o - é obviamente verdade -“Regressando ao tópico incómodo da inteligência, é obviamente verdade que alguns grupos de seres humanos são mais inteligentes do que outros” Mostrando que os filosofos de hoje em dia estão menos preocupados com as questões epistemológicas que com serem uma bela cobertura de chocolate para este movimento de gente tão inteligente e anti- politicamente correcta . O que me leva desde logo a outra dúvida qual é o Gold standard para distinguir chocolate branco de preto. Ou como o Professor Miguel perguntou “como decidiriam quem é negro e quem é branco antes sequer de começarem um estudo comparativo das inteligências (ou do tamanho das pilas, me da igual) de “negros” e “brancos”?”
Ou a mesma coisa de outra forma por Paulo Mota (sem pilas e assim...) “ apenas os restantes 7.5% correspondem a diferenças entre grupos étnicos caracterizados por determinados traços morfológicos, geralmente designados por raças. Ora se uma divisão por raças apenas dá conta de 7.5% da variação genética entre populações humanas, é uma divisão sem interesse biológico.”

5.8.07

Predadores

Aqui há uns meses atrás o lobotomias falava duma proposta eleitoral de Sarkozy referente aos crimes sexuais:

"«Les delinquents sexuels devront accepter traitment medical pour sortir de prison a l´issue de sa peine.»
Para quem não compreende francês ou está demasiado perplexo para perceber o que isto quer dizer é simples - diz-nos Sarkozy:- Os delinquentes sexuais não devem ser vistos pela perspectiva médico –hospitalar, mas sim pelo quadro prisional - tendo uma pena;
- No entanto, depois de cumprirem a sua pena, os delinquentes sexuais, não se tornam cidadãos como os outros com direito à sua liberdade (condicionada como a de todos);
- Não, no fim da sua pena, a sua pena continua até que aceitem ser sujeitos a tratamento «médico».
Não vale a pena perguntarem-me qual é o tratamento médico que se pode oferecer a estes recém criados «doentes» (só são doentes depois de cumprirem pena penal).
Não vale a pena perguntarem-me como é que se tratam estes «doentes» compulsivamente quando eles têm um teste de realidade mantido.
Não vale a pena perguntarem-me que fármacos tratam o desejo, as orientações do desejo, as materializações do desejo.
Todos sabemos que o que Sarkozy quer dizer é exactamente o mesmo que eu ouvi uma vez numa mercearia do meu bairro - Eu cá por mim cortava-lhes o coiso e prontos."

Nos Estados Unidos a coisa está a ser levada mesmo à séria: não se trata apenas de ter de aceitar o tal "tratamento médico" para poder sair da prisão no final da pena, trata-se de nem sequer sair uma vez cumprida a pena. Ou seja, sengundo o Sexual Predators Act, sendo-se julgado e condenado por um crime sexual, a pena deste modo aplicada poderá ser prolongada ad infinitum:

«Gov. John Lynch championed a crackdown on dangerous sexual predators last year and law-and-order sentiment in the Legislature overcame concerns about civil liberties and costs.
The resulting Sexual Predators Act now lets the state keep its most dangerous sexual predators behind bars even after they complete their prison sentences."

(...)
Senate Finance Committee Chairman Lou D'Allesandro said (...)
"Society's answer to this is lock them up and throw the key away," he said. "That's the pervasive attitude. Regardless of cost, I would say that's what society wants.
"How do you take a situation with that kind of pressure from society, turn it into a treatment situation with real results and protect society that demands this protection? That's a tough answer. Yet, that's the answer we have to give."»


E se a resposta da sociedade fosse mesmo no sentido de cortar o coiso, lá teria de ser. De certeza que se arranjaria maneira de transformar a castração numa 'situação de tratamento com resultados reais'.

22.7.07

Dissidência civil

Não tinha tido ainda tempo para mostrar a minha perplexidade a propósito da indignação com que alguns colegas têm recebido a declaração referente à objecção de consciência.

Neste artigo do público de dia 18 ficámos a saber que, se por um lado os ditos colegas exigem ter a liberdade de não encaminhar as mulheres para estabelecimentos ou colegas que cumpram a lei, por outro ficam com a birra por não lhes ser permitido fazer a consulta prévia e o acompanhamento durante o período de reflexão.
Baseados nestes interessantes argumentos parecem querer recusar assinar a referida declaração. Segundo a colega Mariana Guimarães assinar a declaração prevista na portaria "iria contra a liberdade do exercício da própria objecção". Referindo-se à obrigatoriedade de o médico objector ter que encaminhar "as grávidas que solicitem a interrupção da gravidez para os serviços competentes".
É que a consulta prévia e o período de reflexão visam exactamente aquilo que o nome indica, reflexão para escolher, o que implica poder escolher.

Ou seja gentilmente querem continuar a manter as mulheres a dizer não obrigadas.

Convém esclarecer os caríssimos colegas que como dizia o outro citado pela Dra Ana Matos Pires : os objectores não podem em rigor transformar o direito da grávida num quase não direito. Convém esclarecer os colegas que, nos serviços públicos, trabalham para o estado Português, trabalham para fornecer serviços de saúde aos Portugueses (não trabalham em causa própria nem para a sinistra plataforma algarvia).

Por tudo isto torna-se difícil compreender que exprimam com tanto despudor reivindicativo (como se fosse um direito) o desejo de usar do seu lugar enquanto prestadores de serviços para impedir as mulheres de acederem aos cuidados que o estado garante (situação na qual, em última análise, o não encaminhamento resultaria).
A IVG nos termos que a lei prevê é um direito das mulheres portuguesas, mas é mais que isso, é um cuidado de saúde que o estado Português decidiu tornar possível. Querer, através do silenciamento e da coacção, retirar às mulheres a possibilidade de escolher este cuidado não me parece compatível com o exercício de funções num hospital público.

7.7.07

Allgarve

No fim de um curso sobre métodos naturais de planeamento familiar publicitado no Algarve pela Vida, um casal decidiu deixar por escrito:
«O que é natural é Bom!“ (…) Vou mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo”I Cor. 12, 31»
Voltamos outra vez à conversa de ir ao cu???!!
Pior:
"Daqui em diante, durante 6, 12 ou mais ciclos teremos um casal monitor de referência, que nos ajudará a implementar o método."
Não ouviram o que disse a Dra Patrícia Lança???!!
Assim não chegam aos 40, pá!

3.7.07

A Sagrada Família

Naturalmente a nossa amiga Patrícia pergunta-se como é que uma expressão tão natural como “família natural” pode ser vista como uma expressão que destila ódio.
Podemos pensar que as expressões naturais existem naturalmente para designar coisas, entre elas as famílias naturais, nas quais naturalmente se inclui a ela própria e à sua família. Mas surge a dúvida - se as famílias são naturalmente naturais porque é que temos que colocar natural à frente de família?
Para compor uma bela expressão e para naturalmente excluir da natureza outras, que famílias se consideram, mas que naturais para a Patrícia não podem ser.
E assim cabe-nos naturalmente perguntar à Patrícia, quando excluímos alguém da natureza estamos a coloca-la onde?
E então civilizadamente reflecti sobre qual poderia ser o contrário de natureza. Talvez fosse civilização compondo a bela expressão famílias civilizadas.
Proponho então esta expressão- famílias civilizadas, donde forçosamente excluímos a Patrícia e todas as outras famílias que naturalmente são naturais.
Porque a exclusão, Patrícia, assim como o nojo, e o combate que a Patrícia assume contra as famílias civilizadas, destilam, naturalmente não ódio, mas amor natural e fraterno à imagem Cristã dos braços naturalmente abertos de Cristo.

28.6.07

Parasitas insanitários

“Condeno o cristianismo, lanço contra a igreja cristã a mais terrível acusação que jamais passou pelos lábios de um acusador. (...) de cada valor fez um não-valor, de cada verdade uma mentira, de cada rectidão uma baixeza de alma. Que se atrevam a falar-me das suas benesses ‘humanitárias’! Suprimir qualquer angústia iria contra o seu mais profundo interesse: ela viveu de angústia, ela inventou angústias para se eternizar. (...) ‘Humanitárias’ benesses do cristianismo! Adestrar a humanitas, para a tornar uma autocontradição, uma arte de se poluir, uma vontade de mentira a todo o custo, uma repulsa, um desprezo por todos os bons e rectos instintos! A isso chamaria eu as benesses do cristianismo! O parasitismo, única prática da igreja; como o seu ideal de anemia, o seu ideal de ‘santidade’, bebendo, até esgotar, todo o sangue, todo o amor, toda a esperança da vida; o além como vontade de negação da realidade; a cruz como emblema para a mais subterrânea conjura que jamais existiu – contra a saúde, a beleza, a qualidade, a bravura, o espírito, a bondade de alma, contra a própria vida...”
F. Nietzsche, O Anticristo, Publicações Europa América, pp. 131-132

Este vampirismo vicioso que se alimenta da culpa, gera mais culpa, para dela se continuar a alimentar, encontrou num projecto norte-americano um instrumento poderoso. O projecto chama-se Rachel’s Vineyard ou, na sua versão portuguesa, Vinhas de Raquel e tem como objectivo ajudar as famílias a ultrapassar a perda causada por um aborto. Sediado na Igreja Nossa Senhora do Carmo no Alto do Lumiar, conta com o apoio de uma ‘psicóloga’. O ‘processo terapêutico’ passa pela participação em retiros de oração, pelo dar um nome à ‘criança’ que não nasceu e pedir-lhe perdão: “Aqui estou perante Deus Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento; aqui estou perante ti - António - que vives com Ele nos Céus. (...) Gostava de pessoalmente te pedir perdão por te ter impossibilitado a experiência de viveres na terra; eu cometi esse grave erro e por isso lamento muito.”
É lamentável, é triste, é pornográfico, e é criminoso, principalmente da parte de supostos técnicos de saúde mental que, sem qualquer tipo de escrúpulos éticos, assim exploram e multiplicam a miséria alheia.
Este vampirismo vicioso que se alimenta da culpa, gera mais culpa, para dela se continuar a alimentar, precisa do aborto clandestino, precisa do pecado de certas práticas sexuais consideradas ‘insanitárias’. Cá para mim, este frenesim criado em torno da sodomia estará a preparar terreno para outros ‘beneméritos’ projectos cristãos made in USA (tipo isto). Agora percebo porque é o embaixador dos Estados Unidos em Portugal, quando questionado acerca do que mais gostava no nosso país, respondeu: “My favorite thing about Portugal is that the Portuguese genuinely love Americans and they think like Americans.”

26.6.07

Pornopost

Entre frases como a pornografia "não gera alegria" descobri que "A PORNOGRAFIA É CONTRA O AMBIENTE." ???!

12.6.07

Lisboa, 01h15

(Rotunda do Areeiro – vazia, à excepção de alguns carros que passam e de três Homens Pretos que se dirigem ao único taxi parado na praça; não chegam a entrar, o carro avança rapidamente antes que o consigam fazer;
uma Mulher Branca aproxima-se, espera também um taxi; estes abrandam na rotunda em frente à praça, olham, voltam a arrancar; à passagem do terceiro taxi livre a Mulher Branca faz sinal; o taxi pára na rotunda)


Mulher Branca (dirigindo-se aos três Homens Pretos) – Vocês estão à espera também?

Homem Preto 1 – Vai tu.

Mulher Branca – Vocês estavam cá primeiro.

Homem Preto 2 – Vai tu, pode ser que tenhas mais sorte que nós.


(a Mulher Branca entra no taxi)


Taxista Branco (irritado) – Então, chama e depois não vem?

Mulher Branca – Estava a perguntar àqueles rapazes se não estavam também à espera de taxi. Era para a Rua X.

Taxista Branco – Já estava mesmo para me ir embora.

Mulher Branca – Pois, mas eles tinham chegado antes de mim e, pelo que percebi, vários colegas seus já se tinham recusado a levá-los.

Taxista Branco – Aqui também não vinham, garanto-lhe.


(silêncio)


Taxista Branco – É o mundo em que vivemos, não é? Eles até podiam ser bons rapazitos, coitados.

10.6.07

A eficácia da tortura

Ficamos todos mais descansados ao saber que existem estes senhores para zelar pela nossa segurança. Ou não?
A posição da ASFIC é aliás toda ela cheia de sentido, é impossível saber quem torturou a senhora porque o dever de lealdade entre camaradas é muito mais importante que os deveres dos investigadores perante a lei e a sociedade. Ou não?
Sim porque as associações de profissionais servem exactamente para isso, qual lutar por direitos salariais ou condições de emprego, servem para protegermos o cuzinho uns dos outros. Ou não?
O ministério publico aparecer agora, 3 anos depois da senhora ter mudado de cor, a acusar alguém, só pode ser uma aberração. Ou não ?
As acusações foram feitas ao acaso, foram feitas porque o ministério público achou que tinha de acusar alguém-e ora, onde é que já se viu ter de acusar alguém só porque a senhora apareceu cheia de hematomas na cara e no corpo.
Se ainda fosse uma senhora fina, sim, uma senhora de nível, assim lourinha, com outros modos, uma senhora com uma profissão decente, assim tipo médica, aí a história já era diferente, sim. Ou não?
Até porque a senhora caiu das escadas. Ou não?

9.6.07

G8


«Terminou Cimeira do G8
Promessa de dinheiro para África e consenso em questões internacionais A Cimeira do G8 terminou esta sexta-feira com a promessa de quase 50 mil milhões de euros para África e com um consenso em várias questões internacionais, à excepção do Kosovo, em relação à qual "continua a haver divergências". »(SIC)

6.6.07

Afinal há futuro na Ordem dos advogados

Há pérolas de ironia que nem camarada umcorpoestranho conseguiria escrever. Já devem ter reparado neste marmelo, aqui ou aqui, que diz coisas do género:
“Podemos reagir contra tal unilateralidade despótica da mulher(a IVG) por via de uma providência cautelar não especificada.”

Eis para que servem os sacramentos do matrimónio- para pôr providências cautelares ao sagrado órgão das esposas/mães.

A ironia acerca da questão do aborto e do matrimónio atinge assim o seu ponto máximo, certamente inspirado na imagem dos medievais cintos de castidade, denuncia com mestria as sórdidas circunstâncias em que são vividos alguns casamentos em Portugal, a inaptidão de alguns para perceber que as vaginas a elas pertencem, e a incapacidade de alguns de compreenderem que a mulher pode ter vontade própria. Tudo de uma só vez. Situando-se assim bem longe das débeis tentativas ensaiadas por aqui.
António Velez – um nome a reter – um expoente de escárnio e de potência subversiva- desde já convidado a participar neste nascituro blog.

Nota- Se nem isto conseguiu alterar isto- o futuro da blogosfera afigura-se cinzento.

4.6.07

Sugestão de leitura

Trata-se de uma obra de 1954 mas penso que, como a própria instituição do casamento, pode ser considerada intemporal, até mesmo eterna.
A leitura deste livro impõe-se nos dias que correm por inúmeras razões, entre as quais lembro o ataque que se pretende fazer ao matrimónio, as indecências com que se pretende educar para o sexo os espíritos inocentes das crianças e a festiva celebração das noivas de Sto. António.
O tom epistolar torna a leitura deveras aprazível e facilita a transmissão da mensagem aos corações afligidos pela dúvida e o tormento. Cada missiva foca um tema de inegável importância com a simplicidade própria de quem sabe escutar e aconselhar - a luta pela pureza, sobre a pureza, a preparação para o casamento ("A atmosfera que a esposa cria no lar, desde os trabalhos da cozinha até à regularidade das arrumações caseiras, passando pela boa disposição, constituem metade ou três quartos da sua felicidade, porque sem isto as coisas não andam.", p. 37), a luta pela pureza, o respeito que se deve a uma rapariga, a ajuda que os rapazes esperam das raparigas na luta pela castidade ["Há já uma hora que estou sentado em frente de uma rapariga. Vejo-lhe os joelhos, o vestido é bem curto e apertado... e todavia, não me perturba nada. Porquê? Porque tinha meias de lã e nada deixava adivinhar. O caso seria muito diferente uma vez que ela substituisse essas meias por outras de seda (cor de carne ou transparentes). E vós podeis andar na moda sem perturbar ninguém.", pp. 49-50].
Estas e outras preciosas lições podeis vós encontrar nesta obra cuja leitura vivamente aconselho.

1.6.07

Tão puros, tão puros que até comem pombas

Eles criam um outro mundo para o menino em que as mães são todas a Virgem, a senhora nossa (e as outras são todas putas). O menino foi concebido em pureza sacramental, no encontro dos espíritos (ou com uma pomba- o que se já se aproxima da zoofilia), e nasce tão limpo, tão limpo, que se vê logo, naqueles olhinhos semi-abertos o brilho de um anjo sem pecado.

Eles queriam um mundo para o menino em que o menino não tem corpo. Um mundo, que nós- que fomos concebidos em delirios eróticos, que nascemos sujinhos de sangue e membranas e cheinhos de desejo e pecado, nós que nascemos num corpo que vai morrer e morre todos os dias- nunca compreenderemos; a não ser que sejamos iluminados pela salvação (eu sempre achei que tinha tendência para asceta).

30.5.07

Greve geral

Há muito conservadorismo é no mercado laboral. Não se consegue despedir ninguém sem justas causas, indemnizações, manifestações, sindicatos à perna – é uma complicação. É aqui que a malta precisa de simplicidade e flexibilidade. Os tempos mudaram, isto já não há cá empregos para toda a vida. Há que universalizar o bom do recibo verde, só com o trabalho independente é que pode haver empreendorismo, pá, mais produtividade e inovação, mais emprego. Tu já viste bem o que os outros andam a ganhar e o que tu ganhas? Já viste as regalias que os gajos da função pública têm? Para não fazer nenhum! É tudo uma corja, pá! E andas tu a pagar isto com os teus impostos! Para os gajos andarem a coçar o cu pelas paredes enquanto tu dás ali no duro e não consegues sequer pagar as contas ao final do mês. Deixa-te lá disso, não penses em greves. Ainda por cima tens um contrato a prazo, com essas brincadeiras ainda vais mas é para o olho da rua, pá. Deixa-te de lamúrias e vai mas é trabalhar.
"(...) deixai já de olhar o mundo com os vossos binóculos e tomai uma decisão política dai-me uma licença de louco que me permita voltar à obediência automática ao vosso sempre sábio mandado prometo-vos que nunca tentarei procurar explicação para nada confesso a minha vã pretensão pretérita a minha soberba atitude com a que me apresento podeis acreditar-me mui sinceramente arrependido sabeis que sou incapaz de mentir e até isso havereis de me perdoar também foi muito o meu orgulho e sempre será mínimo o vosso castigo arrasto-me aos vossos pés pisai-me cuspi-me urinai-me por cima que eu saberei sorrir agradecidamente"

Camilo José Cela, ofício de trevas 5, trad. Pedro Tamen, Livraria Bertrand, p. 15