O género existe, é verdade caro Peter Parker, mas essa evidência não nos deve inibir de pensar sobre a forma como ele se constrói. Ou melhor sobre a forma como nós o construímos (ou subvertemos). Essa evidência não nos pode fazer esquecer a extrema violência com que o impomos uns aos outros. A extrema violência com que impomos a diferença em geral.
Roubado aqui
Quanto a coisas como :O cérebro feminino é diferente do masculino, lembra-me sempre "o cérebro dos pretos é diferente do cérebro dos brancos".
Divisões fáceis e claras entre as pessoas são sempre criadas e impostas pela violência.
22.6.07
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
9 comentários:
É verdade que existem diferenças... mas mais entre os cérebros de todas as pessoas, do que entre grupo A e grupo B. E, a existirem, what of it?
P.S. Espero não ter soado determinista. Se aconteceu, p.f. chibatem-me! ;)
A associação da frase "o cérebro feminino é diferente do masculino" à frase "o cérebro dos pretos é diferente do cérebro dos brancos" é completamente forçada. Não estemos a falar de cores de pele, mas de género. Muito menos de "raça", conceito muito mais difuso, se é que válido.
Mas já que se entra por aí, o cérebro dos pretos é diferente do das pretas.
Quando falo de "cérebro", não estou a falar do órgão na sua forma e constituição material, mas essecialmente no seu funcionamento. E um cérebro não funciona independentemente do resto do corpo. Influencia-o, e é influenciado por ele. Um cérebro num corpo com pénis não é exactamente igual ao cérebro num corpo com vagina. Há diferenças. TEM que haver diferenças.
E ainda bem que as há.
Acrescento:
Não tenho conhecimentos científicos que me dêm a certeza disto: mas creio que, a nível de algumas partes do cérebro humano, haverá algumas diferenças "físicas" entre homens e mulheres, isto é, na forma como lá se processam as coisas. Pouco interessa se é muito ou pouco.
Mesmo que isto não seja verdade, e que as diferenças de género sejam uma aquisição e não uma característica inata, elas são uma aquisição devida ao género - o tal factor de uns terem pénis e outras vagina (para simplificar)e portanto a relação de cada um com os outros e com o mundo que o rodeia ser, por isso, diferente. O determinismo, não sendo explicação para tudo, não me parece um pecado mortal.
De qualquer modo, há para mim algo de inquietante na tendência para tudo igualizar, tudo normalizar, e rejeitar as diferenças como coisa nociva. Se devemos aceitar a diferença de um homosexual, de um negro, de quem quer que seja "diferente", porque diabo haveremos à viva força de indiferenciar homens e mulheres?
caro Mouro da Lapa
É necessario antes de mais nada ter noção da diferença entre as categorias de sexo ( e dentro deste genital ou cromóssomico) e as categorias de genero (papeis sociais).
A categoria de raça aqui há alguns anos era, para a ciencia, um conceito/categoria de diferença ainda mais forte do que hoje e havia diversos estudos a quererem demonstrar a diferença entre os cerebros.
Hoje faz-se isso em relação ao genero/sexo(dependendo do estudo).
Encontrarem-se diferenças médias entre um grupo de homens e um grupo de mulheres(como antes se encontraram para raças diferentes) não ligitima por sí um discurso da diferença entre homens e mulheres.
Não há diferenças absolutas, algo que esteja presente, ou que funcione de determinada maneira em todos os homens e não funcione ou não esteja presente em todas as mulheres. O que há são diferenças médias, mas essas podemos encontrar (se procurarmos bem), em quase todas as categorias de diferenciação social que criemos. Diferenças médias entre dois grupos em estudos abertos (em que tudo o que se encontre serve- tudo o que vem à rede é peixe) são como qualquer epidemiologista lhe explicaria muito fáceis de encontrar.
É pertinente no entanto a frase final em relação há diferença. vai um pequeno passo do respeito pela diferença que existe para a criação de diferenças que não existem.É um passo milimétrico e provavelmente inevitavel.
Na realidade eu nunca neguei que existissem diferenças - sou o primeiro a dizer que o genero existe, apenas digo como a Judith, que esta diferença não é forçosamente "natural", ela é também imposta com violencia.
Pensamos ter compliance em relação às normas de género, mas na realidade desde sempre, como diz a Judith, somos coagidos a elas. A distancia entre a compiance ("mais naturalizavel") e a coação totalmente externa é impossivel de determinar.
Continuando...
O ser humano e a ciencia em particular criam categorias para diferenciasr entre os objectos ( e neste caso pessoas que nos rodeiam). O conhecimento é o encontrar de "ordem", de descontinuidades, de diferenças. O que não nos podemos esquecer é que estas categorias são criadas também(principalmente nas ciencias sociais mas tambem na psiquiatria) para Justificar diferenças de direitos e deveres. E que às vezes estamos tão impregnados nessas diferenças que não percebemos até que ponto elas não são estaticas estão em transformações, e as ditas descontinuidades se deslocam.
Às vezes estamos tão impregnados nessas diferenças que não temos em conta todas as coisas que contribuem para a sua construção (achamos tudo natural)
Às vezes estamos tão impregnados nessas diferenças que não damos conta de que em muitos casos elas já não existem.
mas tenha calma, Mouro da lapa, não pertenço aqueles que querem matar o genero já, apenas digo podem existir organizações sociais sem essa categoria.
Estou claro em desacordo é com discursos que sugerem estas diferenças como absolutas e estáticas.
Para mim são relativas e em mudança constante.
Ainda a propósito disto
"O que há são diferenças médias, mas essas podemos encontrar (se procurarmos bem), em quase todas as categorias de diferenciação social que criemos. Diferenças médias entre dois grupos em estudos abertos (em que tudo o que se encontre serve- tudo o que vem à rede é peixe) são como qualquer epidemiologista lhe explicaria muito fáceis de encontrar."
Acabei de encontrar (parece a mão do divino) no vosso Blogue :
http://womenageatrois.blogspot.com/2007/06/i-knew-it.html#links
"Irmãos mais velhos são mais inteligentes"
Concordo, evidentemente, que as diferenças (médias ou absolutas) se podem encontrar em todas as categorias de diferenciação social. Nada é absolutamente igual a nada, e a igualdade absoluta é apenas uma diferença imperceptível - ou negligenciável. Também não cheguei ao ponto de dizer que as diferenças entre homens e mulheres são estáticas, nem justifiquei com elas qualquer desigualdade de direitos ou deveres. Limitei-me a dizer, sem as qualificar ou valorizar, que elas existem. Simplesmente porque julguei ler que não.
bom comeco
Enviar um comentário