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1.12.07

Afinal foi no atlantico


Then the LORD said to tiago, "Why are you crying out to me? Tell liberty to move on. Raise your staff and stretch out your hand over the atlantico to divide the water so that the liberty can go through the sea on dry ground."


Ps-Fora tão maltratado aqui e afinal é o profeta...

20.11.07

irritado e de saída de banco

O que parece surgir como incontestável nos casos recentemente vindos a público (do cozinheiro e do cirurgião seropositivos para o VIH) é, além da actividade delirante de infestação a que a nossa sociedade parece estar condenada, o estranho lugar que tem vindo a ocupar entre nós a medicina do trabalho.

Aparentemente os colegas da medicina do trabalho parecem ter esquecido que o doente/utente deve ser a preocupação central do nosso trabalho como médicos, independentemente de quem lhes paga. Parecem acreditar que os interesses e preocupações (racionais ou não) das entidades empregadoras se sobrepõem à pedra basilar de toda a prática médica- a confidencialidade médico-doente.

Não há princípios éticos absolutos porque a realidade humana é demasiado complexa e plural, mas há princípios éticos fundamentais que têm de ser respeitados. Princípios éticos que tem de se fazer respeitar através códigos de conduta que prevejam a ponderação sensata dos vários valores em jogo.

No primeiro caso, respeitante ao cirurgião, é natural que surgissem dúvidas ao clínico responsável, até porque a literatura não parece clara acerca dessa matéria. Assim é possível que o principio da confidencialidade pudesse vir a ter de ser quebrado (ou é aceitável que se argumente desta forma), mas antes de o ser seria necessário passar por algumas etapas que pelo que vem na imprensa não parecem ter sido concretizadas. Nomeadamente, no caso de não existir compromisso expresso por parte do cirurgião de que não interviria em situações clínicas de risco infeccioso, o colega poderia ter avançado com um pedido à ordem para levantamento do sigilo.

No caso do cozinheiro, sem qualquer risco médico de contágio, a quebra da confidencialidade parece verdadeiramente injustificável e grave.

O atropelo ao principio da confidencialidade por parte destes colegas coloca em risco a actividade clínica de todos nós. Prejudica a minha relação terapêutica com os meus doentes. Tem de ser severamente punido.

Mas também o que é que podíamos esperar num país onde o próprio bastonário diz que o código deontológico não é para ser cumprido?

Quanto à decisão judicial, só mesmo na república das bananas é que estas são endeusadas apenas por serem judiciais, mesmo quando incompreensíveis, mesmo quando não obedecem aos princípios da racionalidade e da evidência científica. É saloio e repugnante. Os raciocínios jurídicos não se regem pelas mesmas regras lógicas que os do resto dos mortais ?

Já agora, se querem impedir as pessoas seropositivas para o VIH de cozinhar, se calhar o melhor é impedi-las de fazerem atendimento ao público, impedi-las de cumprimentar as pessoas, colocá-las todas numa ilha ou numa câmara de gás. Entretanto podíamos criar uma estrelinha para elas usarem no peito para não nos enganarmos. É uma questão de saúde pública como sugerem alguns liberais tão liberais que até metem nojo.

2º já agora, quanto tempo é que o tipo andou a cozinhar com tuberculose (se calhar a isso é que deviam ter estado mais atentos, não?)

17.11.07

duracell

O tiago gostava talvez que os gestos sociais fossem estáticos e homogéneos. Que os seus aspectos simbólicos fossem inequívocos e imutáveis. Ficava tudo limpinho, bonito e organizado. Assim diverte-se a fantasiar sobre as origens do casamento.
"Sendo o casamento uma instituição que nasceu, em grande parte, para proteger a prole, seria no mínimo estranho que não houvesse uma protecção relativa à capacidade de procriação duas partes."
Talvez devesse prestar um pouco mais de atenção ao que o casamento é e significa hoje, na pluralidade daqueles interpretam o gesto.
Já no nosso código civil segundo a Shyz não parece haver protecção legal a esse dever de procriação.
“ARTIGO 1672º - Deveres dos cônjuges

Os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.”

mas talvez valha ainda mais a pena lembrar estas palavras do Júlio Machado Vaz

«O casamento de hoje é uma relação tentada entre duas pessoas, dois afectos, duas liberdades, dois projectos de vida, muitas vezes ensaiada previamente numa experiência de coabitação».
«E não a moldura, ainda que emocional, para dois aparelhos reprodutores…».

Finalmente gostava apenas de te lembrar que não cabe aos médicos fazer respeitar leis, ou contratos (legais ou morais), não somos polícias, nem tribunais, nem padres. Cabe aos médicos, isso sim, cumprir a lei.

26.10.07

Comparar o ranking

Ok a minha está entre 90º e 115º .
estamos a falar de escolas certo?
Tinha miúdas e "blacks" e miúdas "blacks".
Não tinha crucifixos, tinha cartazes do maio de 68 no gabinete do conselho directivo (onde fui chamado algumas vezes, confesso) e desconfio que a maioria dos professores era comuna.
Hoje não faço ideia de como será, de qualquer modo atendendo às discussões blogosféricas dos últimos dias é um milagre eu saber usar talheres .... bom mais ou menos.... sou um bocado desajeitado.

29.7.07

Aqui ao lado

no Fish a Siona responde à minha provocação continuando a reflexão fundamental, e que diz respeito a todos, acerca da despsiquiatrização da transsexualidade.

6.7.07

Cavalos de tróia IV

Estou (quase) totalmente de acordo com o que a Siona escreveu numa caixa de comentários desta baloba.
Principalmente com a palavra paciente; alguém perseverante (em suportar ou fazer) mesmo perante as dificuldades de um processo que ninguém facilita e que a sociedade portuguesa apaga ou distorce; alguém que suporta com moderação e sem queixa mesmo perante a desarticulação dos poucos serviços médicos portugueses em que existiam pessoas formadas nesta área a prestar cuidados decentes.
Realmente em Portugal só podem ser pacientes.


Passo a palavra à Siona:

É uma questão complexa. Quando era criança, era assim que punha um cubo de Rubik em ordem: tirava os autocolantes coloridos de cada face de cada secção individual do cubo, e colava-os no sítio onde deviam estar :D.
Infelizmente, com o cubo da Transsexualidade, as coisas já não são tão simples...De um lado, as definições para aquém de simplistas dos livros, e a patologização gratuita, que oferece o único caso de "doença mental" que é curável com cirurgia plástica. A isto soma-se o desinteresse de alguns, o autoritarismo doutorado, prepotente, mas, mesmo assim, desinformado e inútil de outros. Do outro lado, a única coisa que devia interessar: a felicidade d@s pacientes (aliás, no Standards of Care da transsexualidade, o "overarching treatment goal" é a melhoria da qualidade de vida d@s pacientes, but who cares...).Geralmente esse lado ressente-se do primeiro...A solução provavelmente passa por dar mais poder aos pacientes, dando-lhes a informação necessária para poderem tomar pelo menos algumas das decisões no âmbito da transição. Mostrar-lhes que a transição não deve ser encarada como um fruto proibido, a ser alcançado a todo o custo, mas um caminho que pode (não) ser o melhor, e tentar que seja @ paciente a perceber isso, antes do psiquiatra lho chegar a dizer. Dar apoio psicológico por parte de alguém que não faça juízos de valor, e esteja separado do processo de diagnóstico. Oferecer soluções a quem não quer/precisa de fazer uma transição "completa", como administração de terapia hormonal, mas mantendo o papel de género original. Assegurar que quem lida com estes pacientes sabe alguma coisa sobre a temática, e, mais do que controlar @ paciente, @ quer ajudar a libertar-se. E, sobretudo, oferecer uma transição socialmente útil, o que não acontece no SNS português: oferecem uma vaginoplastia, por exemplo, mas não a remoção do pêlo facial, ou cirurgias de feminização facial. Uma pessoa com uma neovagina, mas com pêlo facial, ou outros traços faciais masculinos, é, para a sociedade, um Homem.E depois uma lei de identidade de género, sem a qual tudo o resto pode falhar - @ paciente pode fazer uma transição clínica muito boa, mas não conseguir que um tribunal @ considere transsexual (acontece, por exemplo, com quem tem filhos, ou não é heterossexual, coisas que nada têm a haver com a transsexualidade!).Peço desculpa pelo testamento confuso, mas achei que devia dar a minha opinião :)
11 Maio de 2007

Última provocação- Qual é então a despsiquiatrização que tu pedes Siona?

2.7.07

Caro Colega

Exlentíssimo, deixe-me dizer-lhe que fiquei algo perplexo com o seu último texto publicado aqui. De resto, ninguém duvida da sua profunda e santíssima bondade que lhe dá a autoridade para dizer isto:
"Transmite-se assim a ideia de que, em determinadas circunstâncias dramáticas, ajudar alguém a pôr fim à sua vida é um acto de caridade e de amor, quando é aí que reside a grande hipocrisia da eutanásia. A eutanásia não é uma prova de amor, mas antes o testemunho egocêntrico da sua rejeição."
Mas talvez surjam algumas dúvidas em relação à sua autoridade científica para dizer isto:
"Desde Robbins (1959) verificou-se que mais de 90% das pessoas que se suicidam apresentavam alterações psicopatológicas. Deste modo, estariam privadas do discernimento necessário (em termos mentais) para avaliar em consciência e em liberdade(...)"
Que eu saiba alterações psicopatológicas (bom, sou um mero aprendiz ao pé de sua magestuosidade clínica) nunca foram impeditivas de consentimento informado (de discernimento e capacidade de avaliação em liberdade). Se não, veja - como fazer ensaios clínicos de depressão (por exemplo) em que os doentes têm a priori que dar o seu consentimento.
Fiquei realmente confuso, e decidido a estudar mais e com mais afinco.
Cumprimentos

28.6.07

Parasitas insanitários

“Condeno o cristianismo, lanço contra a igreja cristã a mais terrível acusação que jamais passou pelos lábios de um acusador. (...) de cada valor fez um não-valor, de cada verdade uma mentira, de cada rectidão uma baixeza de alma. Que se atrevam a falar-me das suas benesses ‘humanitárias’! Suprimir qualquer angústia iria contra o seu mais profundo interesse: ela viveu de angústia, ela inventou angústias para se eternizar. (...) ‘Humanitárias’ benesses do cristianismo! Adestrar a humanitas, para a tornar uma autocontradição, uma arte de se poluir, uma vontade de mentira a todo o custo, uma repulsa, um desprezo por todos os bons e rectos instintos! A isso chamaria eu as benesses do cristianismo! O parasitismo, única prática da igreja; como o seu ideal de anemia, o seu ideal de ‘santidade’, bebendo, até esgotar, todo o sangue, todo o amor, toda a esperança da vida; o além como vontade de negação da realidade; a cruz como emblema para a mais subterrânea conjura que jamais existiu – contra a saúde, a beleza, a qualidade, a bravura, o espírito, a bondade de alma, contra a própria vida...”
F. Nietzsche, O Anticristo, Publicações Europa América, pp. 131-132

Este vampirismo vicioso que se alimenta da culpa, gera mais culpa, para dela se continuar a alimentar, encontrou num projecto norte-americano um instrumento poderoso. O projecto chama-se Rachel’s Vineyard ou, na sua versão portuguesa, Vinhas de Raquel e tem como objectivo ajudar as famílias a ultrapassar a perda causada por um aborto. Sediado na Igreja Nossa Senhora do Carmo no Alto do Lumiar, conta com o apoio de uma ‘psicóloga’. O ‘processo terapêutico’ passa pela participação em retiros de oração, pelo dar um nome à ‘criança’ que não nasceu e pedir-lhe perdão: “Aqui estou perante Deus Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento; aqui estou perante ti - António - que vives com Ele nos Céus. (...) Gostava de pessoalmente te pedir perdão por te ter impossibilitado a experiência de viveres na terra; eu cometi esse grave erro e por isso lamento muito.”
É lamentável, é triste, é pornográfico, e é criminoso, principalmente da parte de supostos técnicos de saúde mental que, sem qualquer tipo de escrúpulos éticos, assim exploram e multiplicam a miséria alheia.
Este vampirismo vicioso que se alimenta da culpa, gera mais culpa, para dela se continuar a alimentar, precisa do aborto clandestino, precisa do pecado de certas práticas sexuais consideradas ‘insanitárias’. Cá para mim, este frenesim criado em torno da sodomia estará a preparar terreno para outros ‘beneméritos’ projectos cristãos made in USA (tipo isto). Agora percebo porque é o embaixador dos Estados Unidos em Portugal, quando questionado acerca do que mais gostava no nosso país, respondeu: “My favorite thing about Portugal is that the Portuguese genuinely love Americans and they think like Americans.”

22.6.07

A morte do género

O género existe, é verdade caro Peter Parker, mas essa evidência não nos deve inibir de pensar sobre a forma como ele se constrói. Ou melhor sobre a forma como nós o construímos (ou subvertemos). Essa evidência não nos pode fazer esquecer a extrema violência com que o impomos uns aos outros. A extrema violência com que impomos a diferença em geral.



Roubado aqui

Quanto a coisas como :O cérebro feminino é diferente do masculino, lembra-me sempre "o cérebro dos pretos é diferente do cérebro dos brancos".
Divisões fáceis e claras entre as pessoas são sempre criadas e impostas pela violência.

2.6.07

Thanatos

Ainda na sequência do exercício de controlo do self através da projecção, este post fez-me pensar que, se por um lado materializamos nos outros aquilo que nos mete medo, também materializamos as pulsões de desejo. Medo e desejo são o sumo (ou o sangue) das relações de poder.Se este gráfico reflectirá bastante a história dos Estados Unidos e do mundo, também reflecte a temporalidade dos veículos desejo/medo, poder/controlo. Nenhum destes fenómenos é assim, como podemos ver, fechado no eu (como nós, os psis, tendemos a fazer), existindo, sim, pelo contrário no diálogo das forças sociais que constróem a história.
Mas trago este gráfico apenas para vos mostrar este:
O poder de dar a escolher; alterar a forma da pergunta altera inteiramente a resposta. A forma da pergunta cria a resposta. O discurso criado pelos média, que nos oferece, é certo, a possibilidade de escolhermos, tem dentro de si esta capacidade de construir o que desejamos.
Para que não tenhamos a ilusão de que somos, ou alguma vez poderemos ser, livres.

24.5.07

Somos todos migrantes

IRENE KHAN: FREEDOM FROM FEAR
ECRI Annual report

simultaneamente outro e eu mesmo - o Outro. só nele me posso reconhecer, só nele posso identificar e construir aquilo que sou e vou querendo ser. mas esse espelho em abismo permite-me também identificar e construir no outro aquilo que não sou, aquilo que não quero ser, aquilo de que tenho medo. e é isto, como o disse Sartre, o inferno - os Outros. e andamos em constantes migrações - dentro daquilo que vamos sendo e lá fora nos desertos sombrios acossados pela memória destas e doutras perseguições. e os Outros vão sendo sempre os mesmos - o estrangeiro, o pobre, a mulher, o homossexual, o migrante - identidades que não nomeiam pessoas, que dizem apenas aquilo que queremos dizer e silenceiam aquilo que não queremos ouvir. a ameaça está já ali e é real, e por isso não os posso deixar comer à minha mesa, e por isso não lhes posso abrir a porta, e por isso não posso deixar de lhes restringir o movimento, e por isso não os posso deixar conspurcar o meu sangue, e por isso não os posso deixar ser iguais àquilo que não sou. e por isso deixo que o meu medo sirva de pasto a outros filhos-da-puta maiores do que eu, mais capazes de prevenir a ameaça, mais habilitados para a identificar, mais eficazes e sempre prontos a fornecerem-me nova dose de medo sem a qual não sei estar aqui.

16.5.07

O sangue dos outros

As Panteras Rosa realizaram hoje uma acção contra a discriminação de que são alvo os dadores homossexuais por parte do Instituto Português do Sangue. Para quem duvidava do fundamento da acusação ficaram as palavras de Gabriel Olim (presidente do referido instituto):
"Ser homossexual não é critério automático de exclusão, de acordo com as directivas existentes. A exclusão depende do resto da entrevista. Mas dar sangue não é um direito. O que interessa é a tranquilidade e a segurança de quem vai receber o sangue. E os portugueses têm preconceitos."
Ou seja, se os portugueses têm preconceitos, o Estado português tem o direito de discriminar para proteger os portugueses preconceituosos e não as vítimas do preconceito. Seguindo a lógica, e pensando em todos os preconceitos que os portugueses têm, conseguimos bem imaginar o tipo de sociedade em que gostaria de viver o senhor presidente. Se calhar já estivemos mais longe de voltar a esses caminhos, mas por enquanto ainda vamos tendo um Estado que se diz democrático e que nos devia proteger destas nostalgias.

"O sangue chama por sangue, diz o ditado. Já se tem visto as pedras moverem-se, as árvores falarem, as pegas, os corvos, as pombas, descobrirem, por via de augúrios e revelações conhecidas, o mais oculto criminoso. Em que alturas vai a noite?"
Shakespeare, Macbeth, trad. Domingos Ramos, Lello & Irmão Editores, p. 64

15.5.07

Contribuir com os meus impostos para financiar conservatórias de divórcios? Não obrigad@!

Não lhes bastava o aborto a pedido, agora querem o divórcio a pedido. A extrema esquerda pretende que se possam desfazer os sagrados laços do matrimónio sem qualquer justificação.
Todos os motivos são válidos: querer ir passar umas férias à neve, querer comprar um par de sapatos, querer manter a linha, o simples facto de já não se amar @ cônjuge!
Ainda para mais a proposta de lei é enganadora - diz querer desculpabilizar o divórcio quando o que fomenta é a liberalização do divórcio. O divórcio já se encontra desculpabilizado em Portugal. A actual lei já permite o divórcio nos casos de adultério e de não coabitação durante pelo menos 3 anos.
Alterar a lei para quê?
O progresso e a evolução da ciência permitem hoje um conhecimento e acompanhamento do matrimónio no seio divino e estatal acessível a todos. O matrimónio não é um ente oculto, mas uma entidade sagrada e directamente observável.
Esta é uma opção de uma sociedade solidária?
A lei que se pretende aprovar consagra o divórcio livre, por opção d@ cônjuge, feito gratuitamente em conservatória pública.
O divórcio é uma solução para os cônjuges?
A protecção e promoção d@ cônjuge, o apoio à família, e uma aposta no aconselhamento conjugal responsável são as respostas adequadas ao drama do divórcio e às suas causas profundas. Estudos têm demonstrado a existência de um síndrome pós-divórcio com efeitos destrutivos na vida dos cônjuges, deixando muitas vezes sequelas físicas e psíquicas irreversíveis.
São estas as prioridades para o estado?
A experiência dos países onde o divórcio a pedido é legal mostra que a liberalização determinou um aumento generalizado do número total de divórcios e não eliminou os problemas afectivos e emocionais que estão na sua origem.
O que tem feito o estado?
A rede de solidariedade e apoio afectivo criada pelos apoiantes do NÃO à mudança da lei estende todos os dias uma mão amiga aos cônjuges em dificuldades que se sentem sós e precisam de ajuda.

Por estas razões, só podemos dizer: Divórcio a pedido? Não obrigad@! (e aqui a ausência da vírgula não é mesmo um erro tipográfico)

Folie à deux

Eles querem a interdição total do aborto, o fim da propaganda homossexual, a limpeza política e ideológica da Polónia, e, para melhor conseguirem tudo isto, a reintrodução da pena de morte.

Parece agora que foi aliviado o fardo dos funcionários do Departamento de Lustração do Instituto da Memória Nacional. Mas um novo projecto de lustração já está na forja delirante dos gémeos Kaczynski. Há que preservar a Memória Nacional.

É evidente (pelo menos para alguns) que os bens fundamentais de uma sociedade devem ser controlados e garantidos pelo Estado (como a educação, a saúde, a segurança social, para mencionar apenas os mais óbvios).
E a memória é, sem dúvida, um bem fundamental. Ela é constitutiva da nossa humanidade, da nossa personalidade. Mas, por isso mesmo, ela não pode ser nacionalizada. A ninguém deve ser conferido o monopólio do tempo, nem (ou muito menos) ao Estado.
Os arquivistas e procuradores do Instituto da Memória Nacional não passam de operários de uma unidade de produção de verdades feitas à medida do regime tresloucado dos irmãos Kaczynski.

E aquilo que poderia não passar de uma folie à deux, tem resvalado assustadoramente para uma folie à trois, à quatre, à plusieurs, com uma grande parte da população a apoiar estas medidas. A ver se esta decisão do Tribunal Constitucional consegue inverter a tendência de vermos isto transformado num delírio colectivo.

Fartos desta polónia.
Recomenda-se o internamento compulsivo das criaturas.

10.5.07

Cavalos de tróia II

Em relação ao assunto que temos discutido aqui (e em resposta ao ultimo comentário de Rack) que tal darem uma vista de olhos nisto.
Não me parece ingénuo pedir o mínimo de rigor a manuais supostamente científicos.
Penso aliás que tudo isto vai dar uma grande volta nos próximos anos.

Para os que acreditam nas bíblias

Para aqueles (como Rack) que pareciam não acreditar na confusão em que andam os manuais da área em relação aos conceitos de sexo e género deixo apenas esta frase do DSM IV:

"com o trasvestir-se e o tratamento hormonal (e para os homens a
electrólise) muitos sujeitos com esta perturbação podem ser tomados de modo
convincente
como do outro sexo."

No kaplan não encontrei nenhuma frase tão flagrante (não me apeteceu lê-lo todo outra vez, sou preguiçoso eu sei), mas subentende-se em todo o capítulo um entendimento do papel de género, ou seja, um entendimento do que é ser homem ou mulher, como dependendo unicamente da genitália. De qualquer maneira encontram-se facilmente frases tão merdosas como esta :
"These procedures may make a person indistinguishable
from members of the other sex."
Sublinho- passar de forma indistinguível por uma pessoa do outro sexo . Este mecanismo faz lembrar a expressão de Babha (ver Of Mimicry and Man- the ambivalence of colonial discourse , Babha ), que no contexto da discussão sobre a relação colonial diz «almost the same but not quite»/«almost the same but not white». São realmente bastante próximos, talvez da mesma natureza, os conceitos de raça / etnia e sexo / género.
Ou como diz uma amiga minha- uns fazem broches e outros fazem sexo oral.

8.5.07

Cavalos de tróia

Comecei recentemente a jogar um cubo de rubik a que decidi chamar "psiquiatrização da questão transgénero". De um lado identidades sociais que as ciências sociais nunca conseguiram (e se calhar felizmente) operacionalizar de forma concreta (como transgénero), de outro lado os limites da psiquiatria que nunca foram definidos de forma satisfatória (oscilando entre as versões ambrangentes que chegam à doença social, e as versões minimalistas que se resumem a alguns tipos de psicose), de outro lado questões políticas fundamentais (como possíveis contribuições do sistema nacional de saúde, e novas leis da identidade de género), e finalmente dos outros três lados as muitas vidas de pessoas individuais que desejam ou realizam tantas migrações de género quantas as próprias pessoas.
Como encaixar isto tudo?
Por enquanto vou arrumando os lados (técnica que aliás é proposta aqui).
Podemos começar por tentar separar conceitos de género e sexo e defini-los de forma (ligeiramente) mais clara nos manuais de psiquiatria (mesmo que seja para depois os retirar)- onde tudo se encontra ainda vergonhosamente desarrumado (basta ver o Kaplan). Mantendo, claro, a perpectiva de que estes conceitos não são estáticos nem estão fechados em nenhuma caixa.
Podemos tentar limitar a acção da psiquiatria ao sofrimento individual (com alguns problemas conceptuais dai decorrentes)
Podemos tentar pensar (verdadeiramente) o sistema nacional de saúde tendo em vista, não apenas a eliminação da doença, mas a oferta de processos potenciadores da qualidade de vida (o que entra algo em contradição com a limitação do campo da psiquiatria)
Podemos tentar acreditar na capacidade de escolha, no poder entregue (verdadeiramente) aos utentes e não aos médicos.
Todos estes pontos levantam problemas em que tenho pensado, e aos quais voltarei.
De qualquer forma uma coisa é certa - os direitos das minorias são o cavalo de tróia da liberdade de todos.

Ainda sobre a merda dos cigarros

Parece que o tão afamado projecto de lei prevê a proibição de fumar nos Estabelecimentos Prisionais. Não acreditando que os seus autores sejam grandes imbecis, mas apenas pequenos filhos-da-puta, esta será concerteza uma das medidas a ser alvo de negociações. Não deixa de ser de uma perversidade sem nome o simples facto de se pensar em semelhante coisa.

Li algures num jornal uma notícia acerca de um projecto piloto em que alunos problemáticos eram levados a passar um dia num E.P. durante o qual eram tratados como os detidos: destituídos das suas posses, número à vez de nome e por aí fora. Duvido que lhes enfiassem os dedos pelas partes íntimas à procura de substâncias, mas parece que mesmo assim a experiência se tem mostrado promissora no que concerne o propósito pedagógico de desviar os meninos dos caminhos da marginalidade.

Acho que estes nossos digníssimos representantes deviam também ser obrigados a lá passar, não um dia, mas pelo menos um mês. Idependentemente de serem ou não fumadores, acho que se desviariam dos caminhos de filha-putice em que enverdaram.

eles querem-nos limpos, asseadinhos, sem vícios

acendo um cigarro


e penso na ordem e higiene de lugares e pessoas. lugares e pessoas públicos, esferas de acção do Estado e seus vigilantes.


John Stuart Mill formulou um princípio a partir do qual seria possível evitar derivas autoritárias do Estado, protegendo-nos simultaneamente uns dos outros (nunca de nós próprios). O princípio da liberdade afirma então que, tratando-se da acção de um adulto na maturidade das suas faculdades, o Estado só lhe pode impor constrangimentos a partir do momento em que ameaça prejudicar outrem.


sublinho a palavra prejudicar e observo o percurso maligno do fumo que se eleva no ar. é nas significações difusas desta palavra que se joga a nossa liberdade.

alguns parecem querer aqui misturar espaços privados de incómodos e inconveniências
que o simples olhar do outro pode também causar - um simples olhar, uma presença pressentida pelas costas, limpa, asseadinha, sem vícios.



de corpo limpo, asseadinho, sem vícios não consigo pensar.
preciso de outro cigarro