6.7.07
Cavalos de tróia III
E voltando a uma das discussões fundacionais deste Blog...
Diz o steph:
"Estávamos tod@s de acordo quanto ao facto de o nosso primeiro combate comum ser a despsiquiatrização da transexualidade e a retirada da lista oficial das doenças mentais."
Interessa saber o que realmente pedimos quando pedimos a despsiquiatrização da transsexualidade.
Penso que muitos estaremos de acordo, se eu disser que o diagnóstico psiquiátrico de disforia de género é sinistro, parece mal construído, destila moral em linguagem pseudo-cientifica, limita-se a reproduzir padrões hegemónicos de género cada vez mais decadentes e mais cedo ou mais tarde cairá.
Agora fica sempre a pergunta se essa queda será ou não útil aqueles que querem fazer uma metamorfose de características corporais médica e/ou cirúrgica?O diagnóstico de disforia de género força (forçaria) o SNS a comparticipar todos (o que infelizmente não é o caso) os procedimentos necessários para a "cura".
Por outro lado, mesmo caindo o diagnóstico, o acesso a estes procedimentos continuará, forçosamente, sujeito a controlo pelos psys (como aliás , penso, quase todas as transformações corporais médico-cirurgicas necessitarão cada vez mais de avaliações prévias).Agonia um pouco quando pensamos nisto do ponto de vista do poder- O psiquiatra/psicologo/sexólogo tem o poder de decidir acerca da possibilidade de concretização de um desejo que diz respeito a nossa mais profunda intimidade identitária. No fundo aparentemente tem o poder de nos atribuir ou negar uma forma na qual nós já nos definimos.
No entanto como sabemos muitas patologias psiquiátricas cursam com ideias delirantes somáticas, ou seja muitas vezes relacionadas com o corpo e por vezes relacionadas com o género, e penso que qualquer cirurgião pedirá sempre uma avaliação para exclusão de patologia. Dificilmente conseguiremos pois escapar a este aparente desiquilíbrio de poder.
Por isso o que eu pergunto agora é - o que queremos realmente dizer com despsiquiatrização da transsexualidade?
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2 comentários:
Boa pergunta.
Tens uma aspirina à mão?
Para mim o que eu quero dizer é muito egocêntrico e desculpem-me a franqueza. Quero decidir de mim. Quero poder fazer a transição sem juízos de valor ou pseudo-(des)ajudas.
Estou a ser seguido por um endocrinologista e um psicólogo de moto proprio.
Deveria ser suficiente. Terá de ser suficiente.
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