6.7.07

Cavalos de tróia IV

Estou (quase) totalmente de acordo com o que a Siona escreveu numa caixa de comentários desta baloba.
Principalmente com a palavra paciente; alguém perseverante (em suportar ou fazer) mesmo perante as dificuldades de um processo que ninguém facilita e que a sociedade portuguesa apaga ou distorce; alguém que suporta com moderação e sem queixa mesmo perante a desarticulação dos poucos serviços médicos portugueses em que existiam pessoas formadas nesta área a prestar cuidados decentes.
Realmente em Portugal só podem ser pacientes.


Passo a palavra à Siona:

É uma questão complexa. Quando era criança, era assim que punha um cubo de Rubik em ordem: tirava os autocolantes coloridos de cada face de cada secção individual do cubo, e colava-os no sítio onde deviam estar :D.
Infelizmente, com o cubo da Transsexualidade, as coisas já não são tão simples...De um lado, as definições para aquém de simplistas dos livros, e a patologização gratuita, que oferece o único caso de "doença mental" que é curável com cirurgia plástica. A isto soma-se o desinteresse de alguns, o autoritarismo doutorado, prepotente, mas, mesmo assim, desinformado e inútil de outros. Do outro lado, a única coisa que devia interessar: a felicidade d@s pacientes (aliás, no Standards of Care da transsexualidade, o "overarching treatment goal" é a melhoria da qualidade de vida d@s pacientes, but who cares...).Geralmente esse lado ressente-se do primeiro...A solução provavelmente passa por dar mais poder aos pacientes, dando-lhes a informação necessária para poderem tomar pelo menos algumas das decisões no âmbito da transição. Mostrar-lhes que a transição não deve ser encarada como um fruto proibido, a ser alcançado a todo o custo, mas um caminho que pode (não) ser o melhor, e tentar que seja @ paciente a perceber isso, antes do psiquiatra lho chegar a dizer. Dar apoio psicológico por parte de alguém que não faça juízos de valor, e esteja separado do processo de diagnóstico. Oferecer soluções a quem não quer/precisa de fazer uma transição "completa", como administração de terapia hormonal, mas mantendo o papel de género original. Assegurar que quem lida com estes pacientes sabe alguma coisa sobre a temática, e, mais do que controlar @ paciente, @ quer ajudar a libertar-se. E, sobretudo, oferecer uma transição socialmente útil, o que não acontece no SNS português: oferecem uma vaginoplastia, por exemplo, mas não a remoção do pêlo facial, ou cirurgias de feminização facial. Uma pessoa com uma neovagina, mas com pêlo facial, ou outros traços faciais masculinos, é, para a sociedade, um Homem.E depois uma lei de identidade de género, sem a qual tudo o resto pode falhar - @ paciente pode fazer uma transição clínica muito boa, mas não conseguir que um tribunal @ considere transsexual (acontece, por exemplo, com quem tem filhos, ou não é heterossexual, coisas que nada têm a haver com a transsexualidade!).Peço desculpa pelo testamento confuso, mas achei que devia dar a minha opinião :)
11 Maio de 2007

Última provocação- Qual é então a despsiquiatrização que tu pedes Siona?

1 comentário:

Siona disse...

Ok, o desafio está aceite! ;)