31.7.07

No lixo não, no velhão

Pensávamos nós que pagávamos impostos por uma questão de solidariedade social, para que o Estado possa (melhor ou pior, consoante o governo) garantir os direitos básicos dos cidadãos. Mas andávamos enganados. Isto de pagar impostos não passa de uma manha do Estado para nos tornar seres imorais, incapazes de cuidar e amar o próximo, para nos corromper. E essa história da solidariedade social não passa de uma invenção dos cabotinos de esquerda para se desresponsabilizarem dos seus deveres morais.
"A consagração de direitos sociais, impostos por via legal, e financiados nos impostos, têm tido este efeito perverso. Os idosos, v.g., são objecto de direitos, garantidos, assegurados por prestadores profissionais, por instituições públicas ou dependentes do apoio público;
Tem piada como o adjectivo profissionais surge, em determinados contextos, como a mais hedionda das caracterizações. Estes prestadores de cuidados a que Rodrigo Adão da Fonseca se refere não são uns prestadores quaisquer - eles são profissionais, o que nos faz logo pensar em assassinos profissionais e ter imensa pena dos idosos, coitadinhos, que por culpa do Estado são objecto de direitos, garantidos, assegurados por prestadores profissionais!
Mas este maquiavelismo do Estado começa bem antes. Também as escolas e os hospitais públicos se encontram cheios de prestadores profissionais que desresponsabilizam as famílias e a comunidade e as impedem de cumprir o dever moral de garantir a saúde e a educação dos seus.
"as nossas sociedades organizaram-se de uma forma compartimentada: a população activa produz, para pagar impostos: quer queiram, quer não, aos indivíduos são-lhes sonegados os meios de que necessitariam para cuidar de si no futuro e dos seus no presente, aspecto particularmente limitador da liberdade no caso dos escalões médios e baixos de rendimento, onde os recursos que sobejam após o pagamento de várias dízimas são, quantitativamente, poucos. "
Sim, porque se não pagassem impostos, os escalões médios e baixos de rendimento teriam recursos de sobra para não trabalhar e poder cuidar dos seus idosos, ou para contratar uma enfermeira particular. Provavelmente os recursos dariam mesmo para ambas as coisas e para ainda ir passar umas férias a algum destino exótico se o estado de saúde do idoso o permitisse. Teriam recursos de sobra para comprar educação e saúde, bens que o Estado de forma tão descarada lhes pretende oferecer.
"O que podemos esperar de um modelo social onde tudo se resume a directrizes constitucionais, à consagração de direitos, à aplicação de políticas públicas, onde o Estado ocupa até aquele que deveria ser o espaço do amor ao próximo?"
Ah! O que podemos esperar...? Só mesmo um velhão a cada esquina.

1 comentário:

RAF disse...

Meu caro,

Infere variadíssimas coisas que eu não digo, mas enfim.

Em qualquer caso, não o faz pensar a quantidade de idosos que estão abandonados em lares e, pior, nos hospitais, em relação aos quais a família entende que não é sua responsabilidade cuidar deles? Já pensou que o nosso suposto sistema social, à beira da falência, tem uma pensão média de cerca de 400 euros, o que significa que a moda se fixa em valores ainda inferiores? Faz menos de um ano, fiz uma longa viagem por um dos países mais pobres do mundo, onde o Estado só existe para oprimir o povo e se apoder dos recursos em benefício de uma minoria. Curiosamente, as comunidades organizaram-se de uma maneira onde os idosos são, na familia, os elementos mais importantes, vivendo na mesma casa que filhos e netos, em razoáveis condições, excelentes até se pensarmos no rendimento per capita disponível. E mais: o que rareia em meios, sobeja em afecto.

Talvez valha a pena pensar nisto.

MC
Rodrigo Adão da Fonseca