Há muito tempo atrás, enquanto assistia ao desfilar de uma dezena de figuras femininas em preparativos de deambulações nocturnas, ouvi uma frase que volta-e-meia se instala em frente aos olhos como slogan publicitário, e é tão memorável para mim como o tal pudim 'boca doce'.
Então imagino o corredor que existia para que pudéssemos percorrê-lo para trás e para a frente, de baixo para cima e de cima para baixo, e ouço de forma clara e eloquente, tão vivaz como a maquilhagem que lhes exaltava os rostos, 'eu estou-me a cagar para a Humanidade, porque a Humanidade se está a cagar para mim'.
Questões semânticas e gramaticais à parte, viajei sobre esta frase com sentimentos e significações diferentes, partindo de um inocente e infantil desagrado, e chegando à actual clarividência e concordância invejosa de quem gostaria de ter sido a primeira a proferi-la.
Há verdades assim, tão cruas como o número de pessoas que morrem de inanição planeta a fora, sem que ninguém, pesem embora a emissão de esgares politicamente correctos, realmente se importe.
Eu, pelo menos, nunca comi um bife a pensar nas criancinhas em África, e agrada-me muito mais as preocupações racionais do que os emotivos discursos solidários, daqueles que enviam livros para quem não sabe ler.
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